ElekistãoArte – Elekistão http://elekistao.blogfolha.uol.com.br Notas sobre o universo cultural e adjacências Tue, 19 Nov 2013 04:14:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O dia em que falei com Christo http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/2013/07/31/o-dia-em-que-falei-com-christo/ http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/2013/07/31/o-dia-em-que-falei-com-christo/#respond Wed, 31 Jul 2013 15:51:30 +0000 http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/?p=438 Continue lendo →]]> Nunca poderia imaginar que Christo falasse tão rápido. Imaginava uma conversa tranquila e pausada, zen. Mas o homem era uma metralhadora.

Falou por uma hora, deixando poucos espaços para as minhas perguntas.  Eu tinha uma porção delas. Não é sempre que se fala com Christo.

E antes que o trocadilho se perpetue, este post trata do famoso artista búlgaro naturalizado americano de 78 anos.

Christo, em seu ateliê, em Nova York, em foto de Wolfgang Volz

Ele é aquele, você sabe, que embrulhou uma porção de coisas pouco embrulháveis: o parlamento da Alemanha, a Pont-Neuf, em Paris, ilhas em Miami e um trecho da costa australiana.

O Reichstag embrulhado por Christo e Jeanne-Claude

A primeira vez que eu o vi pessoalmente, no final dos remotos anos 1990, na Feira de Frankfurt, ele e sua parceira (de vida e arte), Jeanne-Claude, davam uma entrevista coletiva, por conta do lançamento de um livrão retrospectivo da longa e importante trajetória deles.

O diabinho trocadilhista que vive pousado sobre meu ombro esquerdo me soprou uma pergunta engraçadinha para eu dirigir aos entrevistados. Mas a sala estava tão apinhada que mal dava para me aproximar. Mas desta vez, ao final de uma hora de conversa (séria), eu não me contive.

Christo, você tem planos de embrulhar o Cristo Redentor?

Ele sorriu (a educação é uma arte). E fez um breve silêncio.

Quem leu a entrevista que fiz com ele, publicada no domingo, na revista “Serafina” (quem não leu, por favor clique aqui), sabe que o artista nem mesmo trabalha mais com “embrulhos”. Vem tentando “desembaraçar” sua imagem deste estigma. 

Mas quando perguntei, ele sorriu. E complementou: “É. Isso seria interessante”.

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Walter de Maria (1935-2013) http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/2013/07/26/walter-de-maria-1935-2013/ http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/2013/07/26/walter-de-maria-1935-2013/#respond Fri, 26 Jul 2013 18:51:43 +0000 http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/?p=425 Morreu hoje, aos 77 anos, o épico artista americano Walter de Maria.

O Elekistão não chegou a tempo de atender seu telefonema.

“Art By Telephone” (1967), de Walter de Maria

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Marx de Jardim http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/2013/05/07/marx-de-jardim/ http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/2013/05/07/marx-de-jardim/#respond Tue, 07 May 2013 14:28:50 +0000 http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/?p=280 Continue lendo →]]> A cidade de Trier, na Alemanha, acordou anteontem repleta de estatuetas vermelhas de Karl Marx à “anão de jardim”.

Os miniMarx do artista alemão Ottmar Hörl

Foram espalhados pela cidade 500 pequeninos Karls, de menos de um metro de altura e em diferentes tons de vermelho. No domingo, lembrava-se na terra natal do autor de “O Capital” os 195 anos do seu nascimento.

Os miniMarx são obra do alemão Ottmar Hörl, um recorrente criador de estatuetas “controversas” de anões. Ele já produziu, por exemplo, gnomos com seus pequeninos dedos médios estendidos e engendrou (se é que se pode dizer assim) uma instalação com 700 anões de jardim com o braço direito erguido, em saudação nazista, o que lhe valeu reprimendas de todos os pontos cardeais.

Não é, na opinião quase sempre trocadilhesca do Elekistão, grande arte.

Mas são um exemplo maiúsculo de como a figura de Karl Marx e (vá lá) suas ideias são temas cada vez mais presentes na arte contemporânea.

No final do ano passado, apenas na cidade de São Paulo foram feitas duas exposições em galerias comerciais de ponta sobre (ou inspiradas em) Marx e no marxismo _o que o próprio Karl dizia que eram coisas diferentes.

Na Nara Roesler, ou melhor, no espaço Roesler Hotel, o anexo da galeria paulistana, o curador mexicano Patrick Charpenel organizou a mostra “Lo Bueno y Lo Malo”(mais informações sobre ela aqui ou aqui).

Não havia obras que gracejavam, recriavam, questionavam ou multiplicavam a figura física barbuda de Marx, mas nelas se fazia reflexões sobre o universo das trocas (e, por exemplo, sobre como o capitalismo as empobrece simbolicamente: do duo francês Claire Fontaine veio, por exemplo, “Capitalism Kills Love”, frase escrita em neon e afixada na entrada da galeria; “mais amor, por favor”, diriam os muros paulistanos).

“The Corpse of Karl Marx is still Breathing”, de Pedro Reyes, na galeria Luisa Strina

Já na Galeria Luisa Strina, na mostra “Parque Industrial”(curadoria de Julieta González), o velho Karl esteve presente, tanto no texto que fundamenta a obra, que pode ser lido aqui, quanto em trabalhos como este acima, do artista mexicano Pedro Reyes.

O mesmo Reyes já havia promovido o fetiche da mercadoria na série “Baby Marx”, no qual, entre outras obras, ele apresenta um debate entre fantoches de Marx e de Adam Smith.

Imagem da série “Baby Marx”, de Pedro Reyes

Ao apresentar esta obra no museu Walker Arts Center, em Minneapolis, nos Estados Unidos, o trabalho foi acompanhado da peça  abaixo, da ucraniana Nataliya Slinko.

Obra da ucraniana Nataliya Slinko

Os pequeninos Marx de Jardim estacionados hoje nas praças de Trier não parecem levar a questão adiante. Lembram, mais bem, uma versão fofinha do velho Parque das Estátuas, em Budapeste, que evoquei no início de um texto recente sobre uma nova tradução de “O Capital” (leia aqui). Aí, não custa mascar uma vez mais um dos velhos bordões de Karl. Aquele, sabe, da história que se repete primeiro como tragédia e depois como farsa?

 

Post-scriptum: em notas mais ou menos relacionadas, começa hoje uma nova etapa do curso livre Marx-Engels. Informações aqui

 

 

 

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Alvorada arquivada http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/2013/04/08/alvorada-arquivada/ http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/2013/04/08/alvorada-arquivada/#comments Tue, 09 Apr 2013 00:34:46 +0000 http://elekistao.blogfolha.uol.com.br/?p=250 Continue lendo →]]> A rigor, o que realmente interessa deste breve post é esta imagem abaixo.

“Alvorada”, aquarela de Cícero Dias (1928)

Esta belezurinha de aquarela passou os últimos 85 anos arquivada, desde que foi exposta na primeira mostra individual de Cícero Dias, em 1928, no saguão do “hospício” Policlínica Geral do Rio de Janeiro, a marcante estreia do pernambucano.

A obra foi resgatada recentemente pela viúva do artista, a encantadora francesa Raymonde Dias, e entregue ao galerista de longa data de Cícero, o paranaense Waldir Simões de Assis Filho. “Alvorada” saiu de seu sono profundo direto para uma das paredes da Simões de Assis Galeria de Arte, na feira SP-Arte, que terminou no domingo em São Paulo.

Conheci Cícero Dias quando ele tinha 93 anos (leia reportagem aqui). Era um sujeito delicado e forte como a “Alvorada” acima. Ele me recebeu, lépido e fagueiro, em seu apartamento próximo da Torre Eiffel, na rue de Longchamps, em Paris.

Só aceitou começar a entrevista depois que tomássemos ambos um copo de whisky. Missão cumprida, sacou um caderno onde estava fazendo esboços para uma praça que projetava em Recife. Ela foi construída, e batizada com o nome da obra mais famosa de Cícero (“Eu Vi o Mundo, Ele Começava no Recife”, o delicioso e gigantesco painel dos anos 1920 que, infelizmente, está numa coleção particular há muitos anos).

Os desenhos do velho Cícero e as obras que decoravam seu apartamento eram abstrato-geométricos, como os que ele começou a fazer nos anos 1940. Mas sua conversa evocava esse passado aquarelado, as cores do Recife da sua juventude.

Foi lá, na capital pernambucana, que encontrei o artista pela última vez, para esta matéria aqui. Eu o entrevistei numa sombra, sob uma árvore da praia de Boa Viagem. Lembro que ele falou sobre o azul anil e sobre o verde dos canaviais. Foi bom reencontrar aqui e acolá estas tonalidades, nesta bonita “Alvorada” que enfim escapa de uma gaveta francesa.

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