O melhor romance de todos os tempos
25/03/13 16:39Com a morte de Chinua Achebe, na quinta passada, eu me lembrei que, por algumas horas, em maio de 2002, manadas de jornalistas do mundo todo acreditaram (e divulgaram) que o escritor nigeriano teria escrito aquele que poderia ser considerado o melhor livro de ficção de todos os tempos. A obra em questão era “Things Fall Apart” (“O Mundo se Despedaça”, na edição brasileira, da Companhia das Letras).
A história começa na gélida Oslo.
No início de 2002, o Clube do Livro da Noruega (mais conhecido por lá como Bokklubben, corrijam-me os leitores norugueses do Elekistão) resolveu empreender uma das mais ambiciosas enquetes literárias de todos os tempos. Com o apoio do The Norwegian Nobel Institute, a agremiação noruguesa perguntou a cem dos maiores escritores vivos, de 54 países diferentes, quais eram os dez livros de ficção mais importantes da história. Votaram figurões como Norman Mailer, Orhan Pamuk, Salman Rushdie, VS Naipaul, Carlos Fuentes, Nadine Gordimer (fã confessa de Achebe) e grande elenco.
Por questões internas, os escandinavos resolveram que a lista seria divulgada sem que se revelasse que obras foram as mais votadas. Mas, por algum motivo, esta informação perdeu-se quando a relação dos Top 100 (veja a lista aqui) começou a circular, no início de maio de 2002.
Como haviam organizado a lista por ordem alfabética de sobrenomes, o grande Chinua Achebe (leia aqui entrevista dele ao The Paris Review) ficou na pole position, logo à frente de Hans Christian Andersen. Lembro de ter ouvido e lido mais de uma referência ao fato de um livro de um escritor não tão conhecido da África (pior, houve quem se referisse a ele como “uma escritora”: “Quem é essa Chinua?”) ter sido eleito o melhor de todos os tempos.
Pouco depois ficou claro que o Clube Noruguês não tinha organizado um ranking (limitaram-se a dizer que o mais votado havia sido “Dom Quixote”, de Cervantes, com votos de mais de 50% dos consultados). Mas por alguns instantes, Achebe foi o maioral.
Post-scriptum: O diário escocês The Scotsman publicou à época da pesquisa um pequeno texto com algumas informações interessantes sobre a seleção. Além de lamentar que nenhum livro escocês havia sido selecionado (e olha que é a terra de Robert Louis Stevenson, Walter Scott, Robert Burns e, why not?, J.K. Rowling), o jornal sublinhava que: dois terços dos livros foram escritos por europeus, metade deles era do século 20, 11 haviam sido escritos por mulheres e nove eram de autores vivos quando a lista foi feita (desde então, já morreram, além de Achebe, o sudanês Tayeb Salih, o egípcio Naguib Mahfouz e o português José Saramago: que representou a língua, em joint-venture com Fernando Pessoa e com Guimarães Rosa).