Marx de Jardim
07/05/13 11:28A cidade de Trier, na Alemanha, acordou anteontem repleta de estatuetas vermelhas de Karl Marx à “anão de jardim”.
Foram espalhados pela cidade 500 pequeninos Karls, de menos de um metro de altura e em diferentes tons de vermelho. No domingo, lembrava-se na terra natal do autor de “O Capital” os 195 anos do seu nascimento.
Os miniMarx são obra do alemão Ottmar Hörl, um recorrente criador de estatuetas “controversas” de anões. Ele já produziu, por exemplo, gnomos com seus pequeninos dedos médios estendidos e engendrou (se é que se pode dizer assim) uma instalação com 700 anões de jardim com o braço direito erguido, em saudação nazista, o que lhe valeu reprimendas de todos os pontos cardeais.
Não é, na opinião quase sempre trocadilhesca do Elekistão, grande arte.
Mas são um exemplo maiúsculo de como a figura de Karl Marx e (vá lá) suas ideias são temas cada vez mais presentes na arte contemporânea.
No final do ano passado, apenas na cidade de São Paulo foram feitas duas exposições em galerias comerciais de ponta sobre (ou inspiradas em) Marx e no marxismo _o que o próprio Karl dizia que eram coisas diferentes.
Na Nara Roesler, ou melhor, no espaço Roesler Hotel, o anexo da galeria paulistana, o curador mexicano Patrick Charpenel organizou a mostra “Lo Bueno y Lo Malo”(mais informações sobre ela aqui ou aqui).
Não havia obras que gracejavam, recriavam, questionavam ou multiplicavam a figura física barbuda de Marx, mas nelas se fazia reflexões sobre o universo das trocas (e, por exemplo, sobre como o capitalismo as empobrece simbolicamente: do duo francês Claire Fontaine veio, por exemplo, “Capitalism Kills Love”, frase escrita em neon e afixada na entrada da galeria; “mais amor, por favor”, diriam os muros paulistanos).
Já na Galeria Luisa Strina, na mostra “Parque Industrial”(curadoria de Julieta González), o velho Karl esteve presente, tanto no texto que fundamenta a obra, que pode ser lido aqui, quanto em trabalhos como este acima, do artista mexicano Pedro Reyes.
O mesmo Reyes já havia promovido o fetiche da mercadoria na série “Baby Marx”, no qual, entre outras obras, ele apresenta um debate entre fantoches de Marx e de Adam Smith.
Ao apresentar esta obra no museu Walker Arts Center, em Minneapolis, nos Estados Unidos, o trabalho foi acompanhado da peça abaixo, da ucraniana Nataliya Slinko.
Os pequeninos Marx de Jardim estacionados hoje nas praças de Trier não parecem levar a questão adiante. Lembram, mais bem, uma versão fofinha do velho Parque das Estátuas, em Budapeste, que evoquei no início de um texto recente sobre uma nova tradução de “O Capital” (leia aqui). Aí, não custa mascar uma vez mais um dos velhos bordões de Karl. Aquele, sabe, da história que se repete primeiro como tragédia e depois como farsa?
Post-scriptum: em notas mais ou menos relacionadas, começa hoje uma nova etapa do curso livre Marx-Engels. Informações aqui