Os sonhos de ossos de Seamus Heaney
30/08/13 11:25Seamus Heaney, morto hoje, num hospital de Dublin, era o poeta clássico-clássico, destes talhados na Grécia Antiga, nos campos provençais, em ilhas cobertas de vulcões no extremo norte da terra.
O irlandês, o quarto sujeito em seu apertado país a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura (e James Joyce nem foi um deles), fazia poesia com natureza e com ossos, com frases como “Space is a salvo. We are bombarded by the empty air. Strange, it is a huge nothing that we fear“.
Um do poemas mais celebrados de Mr. Heaney, que ao longo de sua juventude assinava seus textos com o pseudônimo Incertus, era “Sonhos de Ossos”, bem traduzido para o português por José Antonio Arantes, para uma coletânea do poeta publicada pela Companhia das Letras. Seguem dois fragmentos.
Sonhos de Ossos
Osso branco achado
na pastagem:
a rude, porosa
linguagem do toque
e a amarelenta, estriada
impressão na relva –
um miúdo navio-túmulo.
Inerte como pedra,
sílex-sina, pepita
de greda,
toco nele de novo,
meto-o na
funda da memória
para atirá-lo contra a Inglaterra
e seguir-lhe a queda
em campos estranhos.
2
Osso-casa:
um esqueleto
nos velhos cárceres
da língua.
Rechaço
de dicções,
dosséis elisabetanos,
estratagemas normandos,
as eróticas flores de maio
de Provença
e os latins cobertos de hera
de clérigos
até o zangarreio
do bardo, o lampejo
férreo de consoantes
dividindo o verso.
Gosta da série de poemas sobre as múmias dos pântanos da Irlanda, assim como os biográficos, como o que ele fala de seu pai e seu avô cavando no pântano para tirar turfa ou do enterro do irmão. Um grande poeta irlandês, do mesmo quilate de Yeats e Kavanagh!