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Elekistão

Notas sobre o universo cultural e adjacências

Perfil Cassiano Elek Machado é repórter especial da Folha

Perfil completo

Gtalking com o escritor

Por elekistao
29/07/13 12:00

No sábado publiquei na Ilustrada um texto apresentando o ótimo romance “Digam a Satã Que o Recado Foi Entendido”, que o Daniel Pellizzari lança agora pela Companhia das Letras.
Na semana anterior, havia feito uma entrevista com ele por Gtalk, mas só umas poucas aspas da conversa puderam ser encaixadas no texto em papel (que é este aqui).
Muitos trechos da conversa configurariam “spoiler”. Mas o Elekistão (que fica ao 170 km ao leste de Legresgrado, território onde se passa parte de “Dedo Negro com Unha”, primeiro romance do dito cujo) colheu e selecionou alguns trechos, publicados abaixo.

Ah, o próprio Pellizzari escreveu um bom post esclarecedor sobre o seu livro, que pode ser lido aqui. E no site www.cabrapreta.org há um bocado mais sobre o figura (lá é possível descobrir, entre outras coisas, que ele estreou na literatura com o volume “Contos de Daniel”, que publicou aos 6 anos de idade pela “Editora Batman”, adianta o título provisório de seu próximo romance, “Ser Elogiado, Não Ser Criticado, Ganhar, Não Perder, Ser Feliz, Não Ser Infeliz, Ser Reconhecido, Não Ser Ignorado”, reúne uma lista de todas as suas traduções e apresenta alguns “álbuns de recortes”, como “Gostosa Que se Acha Gorda – Para com Isso, Mulher”).

 

Dubh Linn Gardens, em Dublin, que aparece em cena de “Digam a Satã…”, de Daniel Pellizzari

Eu: Sobranceiro e fornido?
Daniel: Opa.

Eu: É bem marcante no livro a questão do desajuste dos personagens, a maneira como todos eles estão fora do prumo. Também me parece haver nele um niilismo muito engraçado…

Daniel: É um livro todo construído ao redor de desajustes, de certo modo. A Irlanda num período atípico, recebendo imigrantes ao invés de exportar gente. Imigrantes num país desacostumado com tantos estrangeiros morando por lá. E um monte de gente desencaixada de tudo gravitando nesse cenário.

Eu: O romance tem esta marca de ser narrado por seis personagens diferentes. Desde o início o livro foi pensado desta maneira, polifônica?

Daniel: (Só agora li sobre o niilismo: engraçado, não acho tão niilista assim. Alguns personagem encarnam isso, claro, como o Barry. Mas a Patricia, ao menos na minha cabeça, é alguém que não só insiste em enxergar um sentido, como tenta se engajar na construção dele, de uma identidade, de tudo). Mas com relação à pergunta, “desde o início” o livro foi muitas coisas, porque levei anos até descobrir como contar a história que tinha se formado na minha cabeça. Mas sempre foi em primeira pessoa, ainda que tenha pensado em algum momento em ter apenas dois narradores (Magnus e Laura). Não deu muito certo, e eu queria explorar mais o pessoal da Família [seita neocelta da qual participam alguns personagens do livro], então as vozes foram se acomodando de acordo com os pontos de vista conflitantes ou complementares que eu queria mostrar.  Tem todo esse jogo de percepções, de situações que se iluminam ao aparecerem pelos olhos de outra pessoa, e a melhor maneira de fazer isso é com polifonia. Pelo menos pra mim. E também estava com vontade de escrever em primeira pessoa, porque nunca tinha usado muito esse tipo de narrador. Como meu maior interesse era explorar a vida interior dos personagens, tudo se encaixou.

Eu: Quando foi a viagem a Dublin?

Daniel: Fui em outubro de 2007. Fiquei 32 dias e voltei depois do Halloween

Eu: Você já conhecia a Irlanda?

Daniel:  Não, nunca tinha saído da América do Sul. Só Argentina, Uruguai, aquela coisa. (“Nunca tinha saído do Rio Grande do Sul”, então).

Eu:  As referências aos lugares de Dublin foram todas realistas ou você inventou ruas, lanchonetes (com o melhor milk-shake do mundo), casas e tudo o mais mas? Por exemplo, você esteve no número 7 da Asgard Road, onde a “Família” se encontrava?

Daniel: Todos os lugares existem, daria até pra fazer um site com todas as referências no Google Maps. Estive na casa da Asgard Road várias vezes. Ela estava à venda, inclusive. Tentei fazer uma visita como possível comprador, mas não rolou. Nunca conseguiram vender. Logo estourou a bolha imobiliária, e agora (olhei semana passada) está pra alugar. Eu usei as fotos internas do folheto da imobiliária pra conhecer a casa por dentro.

Eu: Você tinha duas premissas, a história se passar em Dublin e incluir uma história de amor…

Daniel: Isso.

Eu: Você acha que ao olhar do leitor tem muito amor no romance?

Daniel: Não posso falar quanto ao olhar do leitor, mas para mim tem várias histórias de amor no livro. Inclusive uma importante.  Bem torta. Mas todas são.

Eu: Mas voltando ao amor, quando eu falava do niilismo eu pensava que, no romance, mesmo o amor parece não valer muito a pena, como se fosse algo que tenhamos de viver,
mas que é claramente fadado a ser um “problema”.

Daniel: É mais desencanto que niilismo. Desajuste e desencanto, duas coisas que aparecem o tempo todo. Mas os personagens reagem de modo diferente. Acho que disso também vem o humor, que é mesmo presente, mas não é exatamente um humor de comédia. É como o condenado gargalhando diante da forca. A risadinha de patíbulo, pra conseguir lidar com coisas que parecem impossíveis de vencer. Onde tem pessoas existem problemas, não consigo enxergar o amor escapando a essa lógica.

Eu: os personagens, além de desajustados e desencantados, são muitas vezes ingênuos, não acha?

Daniel: Não sinto eles como especialmente ingênuos, no sentido de mais ingênuos que a maioria. São só tipos variados de ingenuidade. Porque até os personagens mais cínicos, até céticos, como o Barry, que é de fato mais niilista, também tem sua ingenuidade. Mas todo mundo tem. É outra coisa inescapável. Um dos títulos do livro foi “Todo mundo”, por sinal.
Troquei porque era ruim e pernóstico. E porque era uma referência tonga a Joyce, coisa que eu queria evitar com todo o vigor do mundo.

Eu: O livro tem muitas referências ao ocultismo. De onde vem o interesse pelo tema?

Daniel: Meu interesse é mais por fenômenos à margem, mesmo. É uma mistura de empatia, porque me identifico com elas desde moleque, com o fascínio gerado por ter conhecido nas minhas andanças muitas pessoas que só consigo definir como “bem diferentes”, e visto como funcionam, como veem o mundo. Lidar com isso em ficção é uma maneira de tentar entender melhor essas pessoas, e ao mesmo tempo de dar voz a elas. Sei que isso pode parecer meio arrogante -quem sou eu pra dar voz a alguém?- mas, enfim, escrever ficção é isso. Eu gosto de tentativas de ordenar o mundo, em geral -o que vale pra definir qualquer coisa, no fim. Ocultismo e religiões me interessaram desde sempre porque têm uma estética muito pronunciada e particular, e de certo modo lidam com o mundo dessa forma marcadamente estética: cabala, por exemplo, com a árvore de sefirot, todos aqueles símbolos, tabelas e esquemas. E como eu também funciono desse jeito, não tinha como eu ir para outro lado. Então é um universo no qual mergulhei muito cedo e que, naturalmente, moldou muitas coisas na minha personalidade. 

Eu: Mas assim como o seu livro possivelmente só pudesse ter sido escrito por alguém que se interessa pelo ocultismo também há um olhar irônico em relação a esse universo. Por quê?

Daniel:  Que de certo modo também só poderia ser escrito por alguém com vivência nesse universo. Porque pelo menos na minha cabeça tem isso, mas tem ao mesmo tempo alguma empatia. Não escrevo sobre essas coisas para “ser diferente” ou algo assim. São só os limites do meu mundo, é o que eu consigo expressar, são os personagens e situações que consigo criar. Não tem nada autobiográfico, mas é claro que nasceram das coisas que vi e vivi. 
Os Homens Grandes de Órion, todavia, e todos os delírios relativos a eles, são retirados ipsis literis de uma esotérica que conheci.

Eu: Puxa…

Daniel: Bem o tipo que eu conheci muito e usei pra compor o Demetrius, misturando com a esquizofrenia sem limites.  É um livro quase real-naturalista, pra mim.

Eu: Quando os “terroristas” que fazem uma ponta no romance estão roubando a múmia falam sobre o dedo negro dela.  É uma citação do romance anterior ou só uma coincidência?

Daniel: Citação. Minha literatura mudou, mas tem coisas que são imortais. Mas o dedo da múmia de fato é negro, de tanto que passam a mão nele. Tem duas referências no livro ao dedo, o avô da Patricia menciona uma seita que venera um deus que protege o mundo de um novo dilúvio e que não tem um dos dedos.

Eu: Uma coisa que me ocorreu enquanto lia o livro é que muitas vezes parece um romance de um autor de língua inglesa e fiquei pensando até que ponto sua atividade de tradutor e seu envolvimento como leitor de muita literatura de língua inglesa influenciou isso.

Daniel: Eu leio muito mais em inglês. Já li bastante coisa de literatura em língua portuguesa, e sigo acompanhando a literatura brasileira contemporânea, tanto como leitor quanto com olhos do editor que nunca deixei de ser [ele fundou, com Daniel Galera e Guilherme Pilla uma editora chamada Livros do Mal, que publicou seus primeiros volumes de contos]. E acho que enfim a literatura brasileira está entrando em grande fase. Mas a maior parte das coisas contemporâneas que leio e que me empolgam e, claro, acabam influenciando, são de língua inglesa. Acho que essa sua interpretação tem a ver com a locação, também. E de certa forma tem uma prosódia meio anglófona em alguns personagens, porque eu sempre imaginei eles falando em inglês. Por motivos óbvios.

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Walter de Maria (1935-2013)

Por elekistao
26/07/13 15:51

Morreu hoje, aos 77 anos, o épico artista americano Walter de Maria.

O Elekistão não chegou a tempo de atender seu telefonema.

“Art By Telephone” (1967), de Walter de Maria

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O taxista Jabuti

Por elekistao
25/07/13 09:16

Uma noite você estará em alguma avenida do Rio de Janeiro e vai estender seu braço, dedo indicador esticado, e um táxi amarelo vai frear e você vai pedir que te leve a um destino qualquer da cidade.

E quando você começar a puxar conversa com o motorista, toda aquela conversa mole sobre as condições climáticas e temas congêneres, o interlocutor vai rebater com Padre Antônio Vieira, Albert Camus ou Kierkegaard. A trilha sonora da sua corrida será Thelonious Monk, Rosa Passos ou o “Minueto em Sol Maior” de Bach. Se tiver sorte, o taxista vai te revelar que já ganhou um Prêmio Jabuti (e, quem sabe, até te dar um livro de contos escrito por ele).

Desenho do taxista e escritor Vário do Andaraí

Aconteceu comigo. Num preguiçoso fim de tarde carioca, um par de meses atrás, tomei a viatura de número 055 quase em frente ao Jockey Club da Gávea. Conversa vai, conversa vem, o motorista contou que escrevia. O Elekistão tem apreço profundo por essa árdua atividade, a da escrita, mas nem sempre se alegra quando o interlocutor revela-se subitamente um escriba (neste reino, só se desfruta da poesia quando ela não envolve alguém lhe esfregando um volume de versos na cara com a inquisição “VOCÊ GOSTA DE POESIA???”) . Não era o caso. O taxista estava na dele.

Já estava  saindo do carro amarelo quando ele comentou “en pasant” que tinha ganhado um Prêmio Jabuti. E ofereceu, de graça, um exemplar de um livro seu. Elder Antonio de Mendonça Figueiredo assina suas histórias como Vário do Andaraí. A explicação do pseudônimo? “Machado de Assis era o Bruxo do Cosme Velho. Miguel de Cervantes era o Manco de Lepanto, e Olavo Bilac era o Príncipe dos Poetas. Eu sou o Vário do Andaraí, figura anônima das ruas e vielas do bairro. Vário: singular do seu afamado. Nada. ”

Dedé, apelido não literário do motorista, escreve de verdade. Pode espiar no site dele, este aqui, onde publica desde sonetos e fábulas até crônicas, como as que ele reuniu no livro “Máquina de Revelar Destinos Não Cumpridos” (editora Dimensão) . Foi por este volume, lançado em 2010, que o chamado Vário do Andaraí ganhou um Jabuti, como segundo colocado na categoria Conto e Crônica.

O taxista e escritor Vário do Andaraí, em ação

A estatueta em forma de tartaruga não mudou a rotina. Ex-analista de sistemas, ex-boleiro e ex-dono de quiosque em Copacabana, ele gosta da praça. Roda quase sempre de noite e de madrugada. Nas outras horas, escreve e luta boxe (há uma luvinha preta balançando no retrovisor de seu carro). Atualmente, trabalha no texto de um espetáculo teatral, que deverá ser montado por um grupo de Belo Horizonte, num livro de arte de um pintor da região do Triângulo Mineiro e em legendas (em linguagem bíblica) para uma exposição de fotografias.

Vário, o variado, não para. E ainda te leva para qualquer parte do Rio.

 

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Bolaño, estrela distante

Por elekistao
18/07/13 11:01

Nesta mesma semana julina, dez anos atrás, num hospital no norte de Barcelona, quase em frente a uma rua chamada Poesia, morreu o escritor Roberto Bolaño. Tinha 50 anos e um “assento permanente na literatura mundial”, como escreveria a crítica americana Susan Sontag.

Sobre o chileno magrelo e misterioso, cuja literatura continua a soprar mundo afora (a valente editora New Directions publicou esta semana um volume de 766 páginas  nos Estados Unidos [veja só você…] com seus belos e estranhos poemas, inéditos no Brasil […], na África do Sul, na semana que vem, estreia o filme italiano “Il Futuro”, de Alicia Scherson, baseado em seu livro “Una Novelita Lumpen” , e esta noite, em São Paulo um grupo de leitores se reúne para debater seu romance “Uma Estrela Distante”, mais detalhes aqui), já se escreveu um bocado. Até no Elekistão, que chegou a enviar um emissário diplomático à pequenina cidade catalã chamada Blanes, onde o autor de “2666” fizera seu ninho (vale a pena ler de novo, aqui). Só restava, pois, trazer as palavras do próprio Bolaño sobre Bolaño. Em 1999, quando ganhou o prêmio literário Romulo Gallegos, ele redigiu um “Autorretrato”. O texto foi publicado, postumamente, no volume “Entre Paréntesis” (editora Anagrama,  2004). E é mais ou menos assim.

*

“Nasci em 1953, o ano em que morreram Stálin e Dylan Thomas. Em 1973, estive oito dias detido pelos militares golpistas do meu país e no ginásio no qual mantinham os presos políticos encontrei uma revista inglesa com uma reportagem fotográfica da casa de Dylan Thomas no País de Gales. Eu achava que Dylan Thomas tinha morrido pobre e a casa me pareceu magnífica, quase como uma casa encantada no meio de um bosque. Não havia nenhuma reportagem sobre Stálin. Mas naquela noite sonhei com Stálin e Dylan Thomas: eles estavam num bar da Cidade do México, sentados a uma mesa pequena e redonda, uma mesa própria para uma queda-de-braço, mas eles não disputavam uma queda-de-braço e sim competiam qual deles aguentava beber mais. O poeta galês bebia whisky e o ditador soviético, vodka. À medida que o sonho transcorria, porém, o único que parecia cada vez mais mareado, cada vez mais à beira da náusea, era eu. Isso no que diz respeito ao meu nascimento. No que diz respeito aos meus livros, devo dizer que publiquei cinco volumes de poemas, um livro de contos e sete romances. Meus poemas quase ninguém conhece, o que pode ser bom. Meus livros de prosa têm alguns leitores fiéis, o que pode não ser merecido. Em ‘Conselhos de um Discípulo de Morrison a um Fanático de Joyce’ (1984, escrita em colaboração com Antoni García Porta), falo sobre a violência. Em ‘A Pista de Gelo’ (1993), falo da beleza, que dura pouco e cujo fim costuma ser desastroso. Em ‘A Literatura Nazista na América’ (1996) falo sobre a miséria e a soberania da prática literária. Em ‘Estrela Distante’ (1996), tento uma aproximação, bem modesta, ao mal absoluto. Em ‘Os Detetives Selvagens’ (1998), falo da aventura, que sempre é inesperada. Em ‘Amuleto’ (1999), procuro entregar ao leitor a voz arrebatada de uma uruguaia com vocação de grega. Omito o meu terceiro romance, ‘Monsieur Pain’, cujo argumento é indecifrável. Embora viva há mais de 20 anos na Europa, minha única nacionalidade é a chilena, o que não é nenhum obstáculo para que eu me sinta profundamente espanhol e latino-americano. Na minha vida, vivi em três países: Chile, México e Espanha. Exerci quase todos os ofícios do mundo, com exceção de três ou quatro que qualquer um com certo decoro sempre se negará a exercer. Minha mulher se chama Carolina López e meu filho, Lautaro Bolaño. Os dois são catalães. Na Catalunha, também, aprendi a difícil arte da tolerância. Sou muito mais feliz lendo do que escrevendo.” (tradução Cassiano Elek Machado)

 

Post-scriptum: Em latim, Felix significa feliz. Feliz está a Catalunha com o nascimento, ontem, numa maternidade de Barcelona, do bebê Felix. Tem 3,4 bem torneados quilinhos o primeiro (e maravilhoso) sobrinho do Elekistão. 

 

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"Estúpida mania pró-Brasil"

Por elekistao
02/07/13 16:32

O escritor francês Michel Houellebecq deveria estar neste momento acondicionando seus pertences em uma maleta para viajar ao Brasil. Ele era esperado como uma das grandes estrelas da 11ª Flip, onde faria uma conferência na noite de sábado.

Michel Houellebecq não está fazendo sua mala, e alegou que desistiu por “motivos pessoais”.

O escritor francês Michel Houellebecq

Michel Houellebecq tem, todos temos, motivos pessoais para cancelar o que quer que seja _ ele já havia tido esta mesma natureza de contratempos, coincidentemente, dias antes de embarcar para o mesmo Brasil, como convidado da mesma Flip, dois anos atrás, depois de ter confirmado sua vinda com bastante antecedência.     

Seria leviano da parte do Elekistão, um povo que rejeita a leviandade em passeatas furiosas, buscar na ficção do sr. Michel Houellebecq os motivos deste duplo W.O. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Mais leviano ainda seria fazê-lo em um trecho isolado de um romance do autor, publicado em 1998. Mas, como quem não quer nada, en pasant, assobiando para o lado e tal, esta gleba virtual relembra um naco de um livro importante do importante sr. Michel Houellebecq, chamado “Particulas Elementares”.

 

“Começava a encher o saco dessa estúpida mania pró-Brasil. Por que o Brasil? Conforme tudo o que sabia, o Brasil era um país de merda, povoado por brutos fanáticos por futebol e corridas de automóvel. A violência, a corrupção e a miséria estavam no seu apogeu. Se havia um país detestável, era justamente, e especificamente, o Brasil. Eu poderia ir ao Brasil, em férias. Passearia nas favelas, num microônibus blindado; observaria os pequenos assassinos de oito anos, que sonham em se tornar chefes de bando aos 13 anos; não sentiria medo, protegido pela blindagem; à tarde, iria à praia, entre riquíssimos traficantes de droga e de proxenetas; no meio dessa vida desenfreada, dessa urgência, esqueceria a melancolia do homem ocidental.”

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Os benditos malditos

Por elekistao
23/05/13 10:55

A capa da Ilustrada de ontem tratou do maravilhoso e sombrio universo dos escritores malditos, por conta do seminário “Malditos nos Trópicos”, que termina hoje na USP (como pode-se conferir aqui e aqui).

A equipe de repórteres da Ilustrada (Silas Martí, Raquel Cozer, Lucas Nobile, Gustavo Fioratti, Silvana Arantes e grande elenco) ouviu curadores, artistas, críticos, atores etc. sobre quem seriam seus malditos “favoritos” em diversas áreas da cultura.

A população elekistânica surpreendeu-se com alguns dos mais votados. O grande Nelson Rodrigues, por exemplo, lhes pareceu ter hoje muitos motivos para ser considerado um favorito, mas poucos para ser tratado como maldito (malgré seus gloriosos dias de “ovelha negra”).

Ao longo das consultas, a equipe da Ilustrada recolheu comentários interessantes sobre os “maudits”, que não foram publicados. O Elekistão reúne abaixo alguns deles.

 

Pintura de Fantin-Latour que retrata os “malditos” Paul Verlaine (esq.) e Arthur Rimbaud (a seu lado)

“Esses artistas todos merecem meu respeito e favoritismo generalizado. Não dá para vê-los como malditos. Penso numa inclusão: colocar entre eles um padre católico negro, compositor do Brasil colonial, Maurício Nunes Garcia. Lendas correm a respeito dele, de que teria se encontrado com Mozart. Está entre minhas maldições musicalmente partilhadas.” (TOM ZÉ, músico)

 

O “maldito” Campos de Carvalho

“Procurei, em várias ocasiões restringir o conceito de poeta maldito, defini-lo com clareza. Uso dois critérios: um, não ser reconhecido em seu tempo – é a dualidade poeta maldito versus poeta olímpico, bem representada por Baudelaire versus Victor Hugo (meia dúzia de amigos no enterro de Baudelaire, um milhão de pessoas no de Victor Hugo – hoje, Baudelaire é mais estudado e lido que Victor Hugo, como poeta). Outro, visitar o inferno, relacionar-se com Satã ou Lúcifer; inverter a teologia e cosmovisão do cristianismo. Nesse aspecto, Rimbaud e Baudelaire são exemplares. Lautréamont é hipermaldito, declara-se como tal. Em Piva encontramos as duas qualidades. Demorou para ser aceito, só a partir de 2000. Quando Paranoia saiu, em 1963, não ligaram. E fez sua versão da visita de Dante ao inferno em 20 poemas com brócoli, de 1981, referindo-se à Divina Comédia, porém invertendo-a,  percorrendo um inferno prazeroso, de saunas gay suburbanas. Mais malditos brasileiros? No romantismo, Junqueira Freire. Simbolistas, muitos, inclusive por terem lido e sido influenciados por ‘Les poètes maudits’, de Verlaine – o poema “Os Poetas Malditos”, de Maranhão Sobrinho, é alusão direta. Em Cruz e Souza, o tema está presente, e muito. Entre os modernos – mesmo sendo prosador, mas de prosa poética –, não hesito em incluir Campos de Carvalho nessa categoria.” (CLAUDIO WILLER, poeta e ensaísta)

 

“Só conheci um maldito no cinema brasileiro: Ozualdo Candeias. Da escrita do nome à obra extraordinária, na qual avultam filmes como ‘Zézero’,  ‘Meu Nome É Tonho’, ‘As Rosas da Estrada’, tudo é autêntico e visceralmente antiburguês.” (CARLOS AUGUSTO CALIL, professor de cinema e ex-secretário de Cultura de São Paulo)

 

“Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé. Porque sempre fugiram do lugar-comum da música, sem se preocupar se seriam entendidos.” (EMICIDA, músico)

 

“Os nomes mais óbvios, como Gregório de Matos e Glauco Mattoso, vão perdendo a condição de malditos na medida em que passam a ser associados ao rótulo. É uma dinâmica própria das categorias de ruptura e radicalidade pós-românticas, que também acomete conceitos como o de vanguarda. Eu destacaria, então, entre os escritores do passado, Luiz Gama e, entre os contemporâneos, Fausto Fawcett. Não me parece casual que nosso maior poeta satírico oitocentista, na linhagem de Gregório de Matos, seja também nosso primeiro grande escritor afro-descendente. Sua posição ainda marginal no cânone da literatura brasileira lhe garante a condição de maldito por um bom tempo. Fawcett escreveu um romance que me parece genial: Santa Clara Poltergeist (1990) é um mergulho na linguagem da cultura de massas que se situa na tradição de outros escritores que também poderiam ser considerados malditos, como José Agrippino, autor de Panamérica, de 1967.” (IDELBER AVELAR, professor de literatura e crítico)

“O termo ‘maldito’, entre aspas mesmo, foi muito usado nos anos 1970 para classificar artistas que foram geniais, mas considerados pouco comerciais para as gravadoras. Eu cito três que foram considerados ‘malditos’, mas eu os compreendi muito bem: Jorge Mautner, Jards Macalé e Luiz Melodia” (NANDO REIS, músico)

O paranaense Jamil Snege (1939-2003), em foto do filho Daniel Snege

“Pensei em um nome, não é necessariamente o mais significativo, e a escolha é deliberada, mas quase nunca é citado, pois não transitou no eixo Rio-SP. É Jamil Snege. Penso sobretudo no surpreendente ‘Como Eu se Fiz por Si Mesmo’, texto desconcertante pela mescla de gêneros e desconcertantemente agudo no tocante à desconstrução que um escritor de província (assim ele se caracteriza com grande dose de autoironia) faz de si mesmo, de suas ambições e da vida literária, em sentido amplo. A imaginação do narrador, com toques surrealistas, se concretiza por meio de uma linguagem ácida e precisa como poucas na literatura braaileira do século 20. Também citaria José Albano, poeta nascido no Ceará e um dos homens de letras mais fascinantes da cultura brasileira. Poliglota e erudito, excêntrico em seu comportamento, cultivou uma poesia irregular, com momentos extraordinários e equívocos igualmente inesquecíveis. Foi à Grécia, por exemplo, para reler Homero, no original, claro, no Partenon. Sua obra precisa ser relida com urgência: sua ambição de apropriação de tradições diversas esteve sempre muito acima de sua capacidade de dar forma a suas pretensões literárias. Mas o horizonte que descortinou somente foi recuperado décadas após sua morte. (JOÃO CEZAR DE CASTRO ROCHA, professor de literatura e crítico)

 

“Não considero maldito nenhum dos artistas considerados maldito. Esse termo veio por parte da indústria, das grandes gravadoras. Alguns artistas não se enquadravam na indústria e a indústria não os gravava. A arte deles independia da adaptação ao mercado. Daí veio o rótulo.  Entre esses artistas-heróis, vulgo malditos, Itamar Assumpção é uma grande referência para mim. Mas não posso deixar de citar Jards Macalé, Walter Franco, Jorge Mautner e Luiz Melodia. Benditos todos!” (TULIPA RUIZ, música)

Roberto Piva

“Meu maldito escolhido é Roberto Piva, porque permaneceu fiel ao ‘elogio das margens’ até o final da vida, pagando um alto preço por sua ousadia. Foi um poeta notável, que chutou o pau da barraca e se manteve no relento, recusando os projetos edificantes que transformam a literatura em utilidade pública. Talvez tenha sido nosso último maldito.” (ELIANE ROBERT MORAES, professora de literatura e organizadora do colóquio “Malditos nos Trópicos”).

 

“Não gosto da ideia de ‘maldito’ para designar autores. Embora seja uma forma (um rótulo) usual de valorização por antagonismo ao cânone, de modo geral, infelizmente, tende a reforçar o estigma que denuncia. É o caso típico da Hilda Hilst: é celebrada como maldita, e, por isso, como autora ‘avançada’, que vale a pena citar, mas, ao mesmo tempo, esse tipo de celebração recorta a obra dela num viés escandaloso que empobrece muito o conjunto. Quando a editei, fiz questão de evitar qualquer segmentação ou destaque da obra dita pornográfica em contraste com o conjunto, e fiz o mesmo com as edições que fiz do Roberto Piva e do Bruno Tolentino, outros desses autores que supostamente lucram com o rótulo de malditos. Contudo, bem ao contrário, são frequentemente mal celebrados porque ficam reduzidos a esse nicho superficial em termos críticos, e geralmente oportunista em termos comerciais. Não parece ser o caso, entretanto, desse seminário, conduzido por gente séria.” (ALCIR PÉCORA, professor de literatura e crítico)

Plínio Marcos

“Há quem diga que o maldito se amaldiçoa antes de todos, mas não acredito nessa hipótese. No caso de Plínio Marcos, o rapaz de Santos, que torcia para o Jabaquara, palhaço Frajola, ator que roubou a cena na novela ‘Beto Rockfeller’, dramaturgo do neorrealismo marginal, não foi diferente. Quem o amaldiçoou? Peças como ‘Barrela’, ‘Dois Perdidos Numa Noite Suja’, ‘Navalha na Carne’, foram sucesso de público, um estardalhaço na cultura nacional, um incômodo para a ditadura militar. Ele foi covardemente massacrado pela censura e não se encaixou nos padrões da industria cultural, desde então foi amaldiçoado. Sempre esteve perto de outros ícones da marginalidade, os sambistas, os artistas, os trabalhadores de rua, em suma, o povo. Plínio permanecerá maldito enquanto a população brasileira for marginalizada. É uma maldição que se retro-alimenta. E o grande maldito do Brasil é o próprio país.” (KIKO DINUCCI, músico)

“Evidentemente há um mundo de diferença entre a estilização do sofrimento como modo de produção da genialidade do 19 e o virtuoso da língua do rap brasileiro que foi Sabotage. A inserção nesse clube dos malditos é um pouco uma provocação. Mas essa provocação pode render. Baudelaire ao construir o modelo do maldito em sua homenagem a Edgar Allan Poe define o paradigma do maldito como sendo aquele que recusa a ditadura da opinião da maioria, na democracia dos Estados Unidos. O maldito é uma singularidade negativa. Por outro lado, Sabotage é uma figura coletiva; ele transcreve em sua biografia uma série de lugares comuns da marginalidade urbana brasileira e mundial, inclusive o seu assassinato em um ajuste de contas, no auge de uma carreira que apenas deslanchava e que prometia, e justamente quando parecia – digo bem, parecia – ter se desligado inteiramente do mundo do narcotráfico onde se formara. Sabotage se insere em um grupo de rappers brasileiros que adaptam o vernáculo mundializado e racializado da denúncia dos guetos norte-americanos ao Brasil. No entanto, a língua que usa e cria, chega a um nível de singularização e de codificação que mostra o funcionamento de quase um idioleto, uma língua particular. Nesse sentido ele simboliza a nova realidade das cidades contemporâneas segmentarizadas, a cidade dos ‘enclaves fortificados’ e das favelas, periferias e comunidades segregadas. Lê-lo agora de novo para preparar essa comunicação me dá vontade de passar um tempo no Canão e me aprofundar no conhecimento dessa língua do Sabotage.” (JOÃO CAMILLO PENNA, professor de literatura e ensaísta)

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The thrill is gone

Por elekistao
13/05/13 13:01

“À sua maneira, Chet Baker era Rimbaud, James Dean e Elvis Presley, todos aos mesmo tempo”, já disse sobre o músico Ruy Castro. E tal como os Chet Bakers da poesia, do cinema e do rock’n’roll, o trompetista e cantor de Oklahoma teve um final trágico. Hoje completam-se 25 anos da data em que ele caiu/se jogou/foi jogado (até hoje não se sabe) de uma janela do segundo andar de um hotelzinho de Amsterdã, em frente à estação de trens locais.  

Chet Baker faz uma pausa

Tal como noticiou a Folha, em texto de Ronaldo Evangelista (que pode ser lido aqui), há uma nova biografia do jazzista na praça, do britânico Matthew Ruddick. O Elekistão sugere a leitura de uma obra anterior, já publicada no Brasil, de James Gavin. À época do lançamento no país de “A Longa Noite de Chet Baker” (Companhia das Letras), entrevistei o autor. E aqui reapresento, em versão editada, esta conversa.

* 

Já com a existência repleta de sulcos, Chet Baker dava uma entrevista para um documentário quando o repórter lhe perguntou por que não colocava todas as suas espantosas histórias no papel. Em close, o rosto vincado do trompetista abriu um sorriso e disse: “Ninguém acreditaria”. Chet Baker tinha razão. Ninguém poderia crer na sua autobiografia por duas razões. Primeiro por ter sido mesmo sua vida um bocado inacreditável. Segundo porque, como bom mito que era, Baker alimentava com grossos fardos de pequenas mentiras a fornalha de sua mistificação.
Em 1994, um escritor norte-americano resolveu enfrentar o “ninguém acreditaria” lançado pelo músico e chafurdar nos trigos e joios da vida do artista, nascido em 1929 e morto numa sexta-feira 13 de 1988, despencado da janela do segundo andar de um hotelzinho em Amsterdã.
Foram sete anos de trabalho, mais de 500 entrevistas e viagens tricontinentais e James Gavin publicou com estardalhaço em maio deste ano nos Estados Unidos “No Fundo de um Sonho – A Longa Noite de Chet Baker”.
Essa montanha-russa com um dos jazzistas mais populares da história ganhou versão brasileira. A editora Companhia das Letras lançou as minuciosas 500 páginas da biografia.
“Não é um retrato nada agradável de se ver.” As palavras não são de nenhum resenhista do livro, mas de seu próprio autor, James Gavin, em entrevista à Folha.

Não há meios-tons nessa história. Tomando como marco zero o esvaziado enterro de Baker, ao qual compareceram 35 pessoas, Gavin mostra o passo a passo da transmutação de “pretty boy”, como o garoto de face apolínea era chamado na infância, em “cadáver cantante” (como o classificou o prestigiado “Village Voice”).
Os detalhes da longa viagem noite adentro de Baker são abundantes no livro. Gavin chega ao requinte de descrever, por exemplo, como funcionavam as seringas nos anos 40, antes da invenção da injeção de êmbolos deslizantes. E dos problemas com drogas, nos leva às nove prisões, às 2.500 multas de excesso de velocidade e aos roubos feitos pelo cantor de “Let’s Get Lost” para bancar seu vício.
Mas não é só o Chet perdido, ufa, que nos traz “No Fundo de um Sonho”. Gavin narra cada uma das glórias também, personificadas no nascimento do sopro gelado de seu trompete, anos 50.
Mas nem aí o biógrafo dá total refresco ao biografado. Ao falar do concerto que o catapultou ao estrelado, em 1952, com o já mito Charlie Parker, Gavin desmente versão que Baker consagra nas suas memórias -sim, ele disse que ninguém acreditaria, mas escreveu memórias, já lançadas no Brasil.
Não é verdade que ele teria sido selecionado em uma audiência com dezenas de trompetistas, sustenta. “Chet inventava muitas histórias, construía seu mito. Meu livro ajuda a separar o que era verdade ou não”, diz Gavin.

Abaixo, trechos da entrevista.  

Folha – O que o sr. acha dos críticos de Chet Baker que dizem que ele nunca criou nada de original, só copiou Miles Davis?
James Gavin –
Acho que não é bem assim, ainda que Davis tenha sido claramente o grande modelo de Chet. Ele próprio admitia que se não tivesse havido Davis talvez não houvesse Baker. Miles Davis foi um dos primeiros a tocar em um estilo econômico, sem mudanças abruptas, sem picos de som. Esse modo “cool” foi a base da música de Chet.

Folha – O sr. disse que sem Miles Davis não teria existido Chet Baker. Se Chet fosse feio e negro…
Gavin –
Nós definitivamente não estaríamos tendo esta conversa. Se ele fosse bonito e negro não estaríamos tendo esta conversa. Se ele fosse branco e feio não estaríamos tendo esta conversa.

Folha – Mas ele teria algum papel na história do jazz?
Gavin –
Isso é difícil de dizer. Muito da mística dele vinha do fato de ele ser branco, bonito e misterioso. Não creio que ninguém defenda a idéia de que ele tenha sido um mau trompetista, nem mesmo Miles Davis, que chegou a elogiá-lo, mesmo tendo ficado conhecido depois de Chet Baker, que surrupiara seu estilo.

Mas vale ressaltar que boa parte da popularidade de Baker veio de algo que não está relacionado a Davis: seu modo de cantar, muito próximo do que era sua cara, bonita, triste e distante.

Folha – O sr. já disse que em 1994, quando resolveu fazer o livro, tinha apenas dois discos de Chet Baker. Por que o sr. decidiu fazer uma biografia sobre ele?
Gavin –
O documentário de Bruce Weber “Let’s Get Lost” foi fundamental para isso. Quando foi lançado, no final dos anos 80, o nome Chet Baker não estava em lugar nenhum na América. Ele era tido como uma relíquia do passado, só existia a idéia de alguém que tinha se destruído com as drogas. Era como uma piada.

O filme saiu em 1989, depois da morte misteriosa dele. Os dois, filme e morte, geraram outra vez uma movimentação em torno do nome dele na América. Em 1994 me dei conta de que a história fabulosa de Baker ainda não tinha sido narrada a fundo. E fui atrás.

Folha – Uma resenha sobre seu livro publicada no “The New York Times” sustenta que o sr. demonstra uma certa aversão ao seu personagem. O sr. concorda?
Gavin –
Não concordo. Essa crítica do “NYT”, Michiko Kakutani, é famosa por ser uma víbora. Claro que não odeio Chet Baker. Mas fiz o máximo para não ser um biógrafo apaixonado. Busquei o tempo todo a neutralidade. Não havia necessidade de colocar minhas opiniões penduradas em histórias tão fortes como as do sobrevivente Chet Baker.

Folha – Seu livro mostra como Baker entrou na heroína anos depois de seus amigos. O que empurrou ele para isso?
Gavin –
Eu acredito que ele mergulhou na heroína só depois de conhecer e ficar fascinado por um jovem pianista chamado Dick Twardzik, em 1955. Dick, um viciado, tocava de um modo tão mágico que acredito que ele associou isso à heroína. Baker estava mais ou menos apaixonado por Dick. Foi depois da morte por overdose do pianista, que, segundo rumores, Chet teria assistido, que a coisa aconteceu. Ele voltou para a América em 1956. E logo virou um viciado sério.

Folha – Quais marcas o sr. acha que Chet Baker levou de sua viagem ao Brasil, em 1985?
Gavin –
Acho que ele não tinha a menor idéia do que era o Brasil, ele estava viajando por todo lado e não parecia ter nenhum envolvimento com os lugares que ia.

Chet, como é típico de um viciado, não tinha nenhuma relação com o que estava fora dele. Só pensava em a) conseguir drogas; b) conseguir tocar.
Ele não sabia nada sobre o Brasil, acho que nem sabia o que era bossa nova, gênero que de alguma forma se espelhou em sua música. O Rio de Janeiro, para Chet Baker, deve ter sido como Cleveland ou Detroit. Era qualquer lugar.

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Uma mulher notável

Por elekistao
10/05/13 17:40

Este abaixo é um dos começos mais bonitos -e tristes- que conheço de um romance.

Foto da série “My whole life”, do mestre italiano Mario Giacomelli

“Eu, naquele inverno, estava tomado de furores abstratos. Não direi quais, não é isso que me proponho a contar. Mas é preciso dizer que eram abstratos, nada heróicos, nem vivos; de qualquer maneira, furores pelo gênero humano perdido. Vinha assim há muito tempo, e andava cabisbaixo. Via manchetes nos jornais sensacionalistas e abaixava a cabeça; estava com os amigos, uma hora, duas horas, e ficava com eles sem abrir a boca; abaixava a cabeça; e tinha uma moça ou uma mulher que me esperava, mas nem com ela eu trocava uma palavra, mesmo com ela eu abaixava a cabeça. Chovia o tempo todo, passavam-se os dias, os meses, e eu tinha os sapatos furados, a água me entrando nos sapatos, e não era mais nada que isso: chuva, carnificinas nas manchetes dos jornais, e água nos meus sapatos furados, amigos mudos, a vida em mim como um sonho surdo, e não-esperança, calmaria. Isso era terrível: a calmaria na não-esperança. Dar o gênero humano como perdido e não ter vontade de fazer coisa alguma quanto a isso, nem vontade de me perder, por exemplo, com ele. Eu estava perturbado por furores abstratos, não no sangue, e ficava quieto, sem vontade de nada. Não importava que minha namorada estivesse me esperando, estar com ela ou não, ou folhear o dicionário, era para mim a mesma coisa; e sair para ver os amigos, ou ficar em casa, era o mesmo para mim. Estava quieto; como se nunca tivesse tido um dia de vida, nem jamais soubesse o que é ser feliz, como se nada tivesse a dizer, a afirmar, a negar, nada de meu para pôr em jogo, nada a escutar, a dar, e nenhuma disposição de ganhar, como se em todos os anos de minha vida nunca tivesse comido pão, bebido vinho, ou tomado café, nunca tivesse estado na cama com uma mulher, nunca tivesse tido filhos, nunca tivesse brigado a socos com alguém, ou não achasse tudo isso possível, como se eu nunca tivesse tido uma infância na Sicília, entre os figos-da-índia e o enxofre das minas, nas montanhas; mas, dentro de mim, eu me agitava com os furores abstratos, e pensava sobre o gênero humano perdido, abaixava a cabeça, e chovia, não dizia uma só palavra aos amigos, e a água me entrava nos sapatos.”  (Elio Vittorini; “Conversa na Sicília”; tradução Maria Helena Arrigucci e Valêncio Xavier, ed. Cosac Naify, 2002).

 

Reproduzo este trecho em memória a sua tradutora, Maria Helena Arrigucci, que morreu ontem, aos 74 anos, em São Paulo.

Leninha era uma mulher notável, um pequeno tornado que jamais imaginei que fosse se aquietar. Convivi quatro anos com ela, quando trabalhávamos na Cosac Naify. Aprendi muito. Seu entusiasmo intelectual, a maneira como saboreava a boa literatura _qualidade ímpar dos Arrigucci, como a matriarca da família e o grande irmão Davi_, era proporcional ao seu zelo profissional, na caça diária aos erros e errinhos (laçava com destreza “paralelismos” e “viúvas”).

Explosiva-divertida-falastrona-insistente-leal-meticulosa-punk-mafiosa-caipira, a grande pequena Maria Helena de São João da Boa Vista não passada batida em nenhum lugar. Dentro da editora, tampouco. Batalhava, com furores às vezes pouco abstratos, pelos projetos que tocava: podiam ser empreitadas épicas, muitas das quais tocadas a quatro mãos com o amigo Augusto Massi (como a caixa “Jean Vigo”, com dois livros de Paulo Emilio Salles Gomes sobre o cineasta ), livrinhos discretos e poéticos (por exemplo “Sardenha como uma Infância”, do mesmo Elio Vittorini) e ainda as obras da coleção “Mulheres Modernistas”, que ela apelidava de “as muié”: entre outras, Flannery O’Connor, Virginia Woolf, Gertrude Stein e, suponho que sua predileta, Natalia Ginzburg.

Em uma palavra, notável. O adjetivo que Leninha usava, sempre, de forma muito séria, diligente, para livros, escritores, “fitas” italianas, tradutores e tudo aquilo que mais admirava parece ser o único possível para encerrar esta despedida.

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Marx de Jardim

Por elekistao
07/05/13 11:28

A cidade de Trier, na Alemanha, acordou anteontem repleta de estatuetas vermelhas de Karl Marx à “anão de jardim”.

Os miniMarx do artista alemão Ottmar Hörl

Foram espalhados pela cidade 500 pequeninos Karls, de menos de um metro de altura e em diferentes tons de vermelho. No domingo, lembrava-se na terra natal do autor de “O Capital” os 195 anos do seu nascimento.

Os miniMarx são obra do alemão Ottmar Hörl, um recorrente criador de estatuetas “controversas” de anões. Ele já produziu, por exemplo, gnomos com seus pequeninos dedos médios estendidos e engendrou (se é que se pode dizer assim) uma instalação com 700 anões de jardim com o braço direito erguido, em saudação nazista, o que lhe valeu reprimendas de todos os pontos cardeais.

Não é, na opinião quase sempre trocadilhesca do Elekistão, grande arte.

Mas são um exemplo maiúsculo de como a figura de Karl Marx e (vá lá) suas ideias são temas cada vez mais presentes na arte contemporânea.

No final do ano passado, apenas na cidade de São Paulo foram feitas duas exposições em galerias comerciais de ponta sobre (ou inspiradas em) Marx e no marxismo _o que o próprio Karl dizia que eram coisas diferentes.

Na Nara Roesler, ou melhor, no espaço Roesler Hotel, o anexo da galeria paulistana, o curador mexicano Patrick Charpenel organizou a mostra “Lo Bueno y Lo Malo”(mais informações sobre ela aqui ou aqui).

Não havia obras que gracejavam, recriavam, questionavam ou multiplicavam a figura física barbuda de Marx, mas nelas se fazia reflexões sobre o universo das trocas (e, por exemplo, sobre como o capitalismo as empobrece simbolicamente: do duo francês Claire Fontaine veio, por exemplo, “Capitalism Kills Love”, frase escrita em neon e afixada na entrada da galeria; “mais amor, por favor”, diriam os muros paulistanos).

“The Corpse of Karl Marx is still Breathing”, de Pedro Reyes, na galeria Luisa Strina

Já na Galeria Luisa Strina, na mostra “Parque Industrial”(curadoria de Julieta González), o velho Karl esteve presente, tanto no texto que fundamenta a obra, que pode ser lido aqui, quanto em trabalhos como este acima, do artista mexicano Pedro Reyes.

O mesmo Reyes já havia promovido o fetiche da mercadoria na série “Baby Marx”, no qual, entre outras obras, ele apresenta um debate entre fantoches de Marx e de Adam Smith.

Imagem da série “Baby Marx”, de Pedro Reyes

Ao apresentar esta obra no museu Walker Arts Center, em Minneapolis, nos Estados Unidos, o trabalho foi acompanhado da peça  abaixo, da ucraniana Nataliya Slinko.

Obra da ucraniana Nataliya Slinko

Os pequeninos Marx de Jardim estacionados hoje nas praças de Trier não parecem levar a questão adiante. Lembram, mais bem, uma versão fofinha do velho Parque das Estátuas, em Budapeste, que evoquei no início de um texto recente sobre uma nova tradução de “O Capital” (leia aqui). Aí, não custa mascar uma vez mais um dos velhos bordões de Karl. Aquele, sabe, da história que se repete primeiro como tragédia e depois como farsa?

 

Post-scriptum: em notas mais ou menos relacionadas, começa hoje uma nova etapa do curso livre Marx-Engels. Informações aqui

 

 

 

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Cow parade

Por elekistao
02/05/13 16:44

Lydia Davis é o tipo de escritora capaz de fazer um livro inteiro só sobre a maneira como três vacas na sua vizinhança se movimentam no pasto, num dia qualquer.

“É muito frequente que elas fiquem completamente paradas. Mas quando eu volto a observá-las alguns minutos depois, elas estão em outro lugar, de novo completamente paradas”, escreve no livro “The Cows” (Sarabande Books, 2011).

É mais ou menos assim que eu me sinto com relação à incrível ficção desta contista americana, que virá para a Flip deste ano. Seus contos parecem estar parados, ruminando um montinho de capim qualquer. E quando você volta a algum deles, surprise!, estão ruminando um montinho de capim mais acolá.

É ficção das mais finas e, surprise!, finalmente veio ruminar no Brasil. A Companhia das Letras botou nas ruas na semana passada a primeira coletânea de contos de Mrs. Davis, o impecável “Tipos de Perturbação”, precisamente traduzidos por Branca Vianna.

Entrevistei Lydia Davis há um par de semanas, interneticamente, como o leitor mais atento da Folha deve ter percebido (saiu anteontem, assim). Para os demais, engajados na arte de observar vacas, segue o pingue-pongue com a escritora, em versão leventemente ampliada do que a registrada em papel-jornal.

A revista americana “The Believer” publicou uma resenha sobre “Tipos de Perturbação” no qual perguntavam: “Lydia Davis diz mais com o que diz ou com o que não diz”. O que Lydia Davis diria a respeito? Menos é mais ou é só o bastante?

Tento ser tão concisa ou breve quanto posso ao expressar o que quero expressar. Isso é o que eu poderia chamar de “menos”. Mas Proust também acreditava em ser conciso. Se uma frase dele pode durar várias páginas isso não significa que ele tenha dito mais do que ele necessitasse. Há também o papel do leitor: quanto mais ativo ele é, expandindo a história ou compreendendo suas implicações, entendendo aquilo que não foi dito explicitamente, mais satisfeito o leitor ficará.

Poucos escritores são tão ligados ao gênero conto como a sra. Mas a sra. já publicou um romance, curiosamente chamado “O Fim da História” (“story” pode significar conto em inglês). Como foi a experiência de trabalhar em outro formato? A sra. pretende escrever mais romances ou este foi o fim dessa história?

Sou muito satisfeita com o gênero conto. Ele é flexível e versátil e pode levar a muitas direções diferentes. Meu único romance veio da experiência de querer contar uma história que era muito longa para caber num conto. As duas principais dificuldades de escrever um romance foram: primeiro, organizar o material; depois, sustentar de um dia para o outro a vivacidade da voz narrativa. Eu não me importaria de escrever outro romance, e isso ainda é possível, mas no momento estou mais interessada em trabalhar com assuntos de história primária e desenvolver a partir disso uma narrativa de não-ficção.

O crítico da revista “New Yorker” James Wood diz que seus contos compõem uma espécie de autobiografia intelectual e emocional. Quão próxima a sra. se considera da narradora média de suas histórias?

Gosto do comentário de James Wood e, às vezes, gosto de olhar as histórias como se estivessem em ordem cronológica, o que nunca aconteceu, e imaginar que são, de certa forma, uma autobiografia. Mas, por outro lado, ainda que muitas histórias narrem episódios reais ou tratem de algum momento de minha própria vida, elas nunca são exatamente verdadeiras sobre a minha vida, por pelo menos dois motivos: parte dos conteúdos são mesmo inventados ou deslocados de algum outro momento de minha vida ou da vida de outra pessoa e, também, quando alguém seleciona algo da realidade inevitavelmente a distorce.

O que a sra. aprendeu, como escritora, com a experiência de ter traduzido autores como Marcel Proust e Gustave Flaubert?

Um dos grandes prazeres de traduzir é a possibilidade de escrever na minha língua usando a voz e o estilo de alguns dos melhores escritores. Naturalmente, Proust e Flaubert fazem parte deste grupo. Não tenho como saber, em toda a extensão, o que eu aprendi com essas experiências, mas certamente aprendi algo sobre o inglês e suas possibilidades, alguma coisa sobre o francês e sobre as culturas e as épocas nas quais Proust e Flaubert escreveram e nas quais ambientaram seus romances.

Como tradutora a sra. já fez mudanças depois de ter publicado uma primeira versão de uma obra. Você também faz ajustes ou edita seus contos quando eles são reeditados? Como é o processo de “polimento” dessas histórias de maneira geral?

Fiz, de fato, duas versões da minha tradução de Proust e, até agora, uma variante de minha versão de Flaubert. Isso é inevitável: um escritor vê sempre algumas melhorias possíveis em obras tão extensas. Quanto aos meus textos, costumo publicá-los já em suas versões finais. Em alguns casos, faço revisões, as vezes inúmeras revisões, quando vou publicar em livro um conto que já havia saído em uma revista. De maneira geral, do começo ao final, eu trabalho muito no “polimento” das histórias. Em alguns casos, eu continuo mexendo em algumas palavras até eu não enxergar mais nada que possa ser alterado.

A sra. cresceu numa família de intelectuais e diz ter lido livros como “Malone Morre”, de Samuel Beckett, aos 13. Quando a sra. “virou” escritora?

Comecei a pensar seriamente nisso bem cedo, com uns 14 ou 15 anos. Antes disso, eu estava interessada em tocar piano e violino e até escrever as minhas composições. Gosto e sempre gostei de atividades nada literárias, como jardinagem e o estudo de animais e insetos. Mas, ao passo que alguém continue a pensar enquanto pratique estas atividades, elas continuam sendo de alguma maneira intelectuais. E eu não quero parar de pensar jamais.

Em uma entrevista dada ao escritor Rick Moody a sra. disse que é tão obcecada por línguas estrangeiras que, de tempos em tempos, faz uma imersão num idioma que não conheça, como o sueco. A sra. já mergulhou no português?

Tive uma boa experiência com o espanhol, até porque vivi em Buenos Aires quando tinha 17 anos. Consigo ler e já traduzi textos da mexicana Ana Rosa González Matute. Adoraria aprender português e o meu espanhol provavelmente ajudaria. Se você tiver algum bom autor de contos para recomendar adoraria ler e tentar traduzi-lo. Ultimamente tenho estudado holandês.

A sra. já esteve no Brasil? O que espera encontrar por aqui?

Eu passei rapidamente pelo Rio quando tinha 17 anos, a caminho de Buenos Aires, com meus pais. Tenho boas memórias desta viagem, mas isso já faz muito tempo. Estou ansiosa com a possibilidade de revisitar o país, mas não tenho expectativas, portanto eu certamente ficarei surpresa.

A obra “13 Water Towers”, de Bernd e Hilla Becher

A sra. já escreveu um livro só sobre a movimentação de três vacas na sua vizinhança. Em “Tipos de Perturbação” a sra. também toma objetos e disserta sobre eles incansavelmente, da mesma maneira que artistas como o americano Ed Ruscha catalogava postos de gasolina ou que o casal alemão Bernd e Hilla Becher fotografava caixas d’água. A sra. foi influenciada por este tipo de arte “serial”?

Ao descrever continuamente algo eu respondo sinceramente à minha fascinação por estes temas, por exemplo pelas vacas da minha vizinhança. Não tenho consciência de ter sido influenciada por artes visuais, mas você está me dando boas ideias de um caminho a ser seguido. Pesquisarei os artistas que você mencionou.

A sra. é leitora de haikais?

Sou leitora de um autor de haikais em especial, Bashô. Mas gostaria de ler outros escritores do gênero.

A sra. é leitora de filosofia, tema que aparece com frequência em suas histórias?

Não leio muita filosofia, ainda que eu o tenha feito no passado. Na faculdade, eu cheguei até a escrever um ensaio sobre o filósofo francês Henri Bergson e suas teorias sobre o humor.

Contos como “Insônia” e “O Caminho da Perfeição” poderiam passar tranquilamente por poemas. A sra. já publicou o mesmo texto em diferentes ocasiões como conto e como poema? O que faz com que estes contos sejam contos?

Enquanto houver algum elemento de narrativa num texto, acho que posso chamá-lo de conto. Prefiro tentar ampliar a definição de conto do que chamá-lo de poema. Mas não me importo se alguém considerar minhas histórias como poesia. Um dos meus contos já saiu no volume “Os Melhores Poemas Americanos”, o que me deixou contente. Mas eu comecei como autora de contos, não como poeta. Tendo dito isso, devo acrescentar que, sim, alguns textos que escrevo os faço com a intenção de que fossem mais poemas do que prosa.

Numa entrevista recente à Folha, o sul-africano J. M. Coetzee declarou que nunca se diverte ao escrever. A sra. consegue se divertir?

Tenho enorme prazer em escrever. Não sei se conseguiria chamar esse prazer de “diversão”, já que há um toque de leveza nesta palavra que não combina com o sério ofício de escrever. Mesmo escrever algo divertido é uma empreitada séria. Posso sorrir enquanto o faço e depois de ter a história pronta, mas escrevê-las é um trabalho duro e sério.

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